Alimentação segura na disfagia: adaptando texturas e consistências no dia-a-dia

Com alguns ajustes simples, é possível se alimentar de forma segura e prazerosa mesmo quando há dificuldade para engolir. As modificações de textura e consistência são ferramentas fundamentais para reduzir riscos de engasgo e garantir aporte nutricional adequado. Confira as algumas orientações práticas para usar no seu dia-a-dia, junto com as recomendações do profissional de saúde que te acompanha.

Por que mudar a textura?

Os alimentos e líquidos de textura muito fina ou fragmentada passam rápido demais pela garganta, aumentando o risco de irem para o lugar errado (pulmão).

Texturas mais homogêneas e com viscosidade controlada “escorregam” de forma mais lenta e uniforme, facilitando o fechamento das vias aéreas durante a deglutição (1).

Desvendando as consistências dos alimentos

As consistências dos alimentos em cada tipo de dieta são descritas na tabela abaixo (2).

A consistência ideal para pessoas com disfagia deve ser definida por um fonoaudiólogo após avaliação detalhada da deglutição (3). Só assim você garante segurança sem comprometer o prazer de comer.

A mágica dos espessantes 

Como parte do manejo da disfagia, é comum que os profissionais de saúde recomendem o uso de espessantes (produtos em pó que servem para engrossar líquidos) (1).

Ao deixar os líquidos mais grossos, isso faz com que eles passem mais devagar pela garganta, o que contribui para evitarengasgos, desnutrição, desidratação e até infecções pulmonares causadas por aspiração de líquidos para os pulmões (1).

Em geral, os líquidos espessados podem ter a consistência de néctar, mel ou pudim (4).

Outra classificação possível divide os líquidos em: 

• Finos
• Muito levemente espessados
• Levemente espessados
• Moderadamente espessados
• Extremamente espessados (5)

Novamente, o espessamento ideal será definido pelo fonoaudiólogo de acordo com o seu grau de disfagia.

Dicas práticas para o dia a dia

Além da consistência e textura dos alimentos, outras dicas para o momento das refeições incluem (6, 7):

• Postura: mantenha o tronco ereto durante e até 30 min após a refeição.
• Ritmo: coma devagar, em pequenas colheradas, aguardando a deglutição completa antes de repetir.
• Ambiente calmo: minimize distrações (TV, conversas intensas) para focar no ato de engolir.
• Higiene oral: escove os dentes e enxágue a boca antes e após comer para remover resíduos e estimular a sensibilidade oral.
• Treinos de sucção e deglutição: exercícios que ajudam a fortalecer os músculos usados na hora de engolir, como a língua e a garganta. Eles são orientados por fonoaudiólogos.
• Estimulação da boca e garganta: toques leves com diferentes temperaturas ou sabores podem ajudar a “acordar” a sensibilidade da boca e preparar melhor os músculos para o momento de engolir.
• Posturas especiais: em alguns casos, mudar a posição da cabeça (como inclinar para frente ou para um lado) ajuda o alimento a seguir o caminho certo. A escolha da posição ideal deve ser feita com a orientação de um profissional, já que cada caso é diferente.

Mensagem para cuidadores

Se você é cuidador de uma pessoa com disfagia, confica algumas dicas para ficar atendo:

1. Prepare os alimentos conforme as orientações de textura e consistência fornecidas pelo fonoaudiólogo.
2. Acompanhe as refeições, esteja perto para ajudar em caso de engasgo.
3. Incentive pequenos goles com líquidos espessados para manter a hidratação.
4. Tenha o hábito de anotar as alteraçõesno apetite, peso ou sinais de desconforto e comunique a equipe de saúde.

Com adaptações necessárias e suporte profissional, é possível transformar a refeição em um momento de segurança e prazer, mantendo o aporte nutricional necessário para saúde e bem-estar.

Referências

1. Peñalva-Arigita A, Lecha M, Sansano A, Prats R, Vásquez A, Bascuñana H, Vila L. Adherence to commercial food thickener in patients with oropharyngeal dysphagia. BMC Geriatr. 2024 Jan 16;24(1):67. doi: 10.1186/s12877-023-04589-4. PMID: 38229009; PMCID: PMC10792797.
2. BRASPEN - Dock-Nascimento DB, Campos LF, Dias MCG, Fabre MES, Lopes NLA, Oliveira Júnior PA, et al. Dieta oral no ambiente hospitalar: posicionamento da BRASPEN. BRASPEN J. 2022;37(3):207–27.
3. Alvite MFL, Piovacari SMF, Nascimento DBD. Parecer da BRASPEN sobre prescrição de volume, consistência e suplemento nutricional no paciente disfágico. BRASPEN J. 2019;34(4):418–20. 
4. An S, Lee W, Yoo B. Comparison of National Dysphagia Diet and International Dysphasia Diet Standardization Initiative Levels for Thickened Drinks Prepared with a Commercial Xanthan Gum-Based Thickener Used for Patients with Dysphagia. Prev Nutr Food Sci. 2023 Mar 31;28(1):83-88. doi: 10.3746/pnf.2023.28.1.83. PMID: 37066029; PMCID: PMC10103603.
5. International Dysphagia Diet Standardisation Initiative (IDDSI). Definições detalhadas e métodos de teste – Versão 2 (Português – Brasil) [Internet]. IDDSI; 2021
6. Conselho Federal de Fonoaudiologia. Atuação fonoaudiológica na disfagia no adulto [Internet]. Brasília: CFFa; 2024.
7. Secretaria Municipal de Saúde. Cartilha de orientação: cuidados com a pessoa com disfagia. [Belo Horizonte]: Prefeitura de Belo Horizonte; 2022.