Cuidar de alguém que recebe dieta enteral é um ato de carinho que exige atenção não apenas à nutrição, mas também ao bem‑estar físico e emocional de si e do próximo.
Neste texto, vamos explorar aspectos fundamentais para tornar essa rotina mais confortável e digna para ambos os lados.
Como manter a dignidade e o conforto do paciente?
A nutrição enteral é essencial para garantir suporte nutricional, mas pode gerar desconfortos físicos e sofrimento emocional.
A impossibilidade de se alimentar pela boca — um ato tão cotidiano e simbólico — pode ser vivida como uma perda profunda, afetando autoestima, socialização e sensação de normalidade. Esse rompimento, especialmente em casos prolongados, pode provocar sentimentos de exclusão, frustração e até depressão(1).
Por isso, garantir conforto e dignidade não é apenas cuidado, mas parte fundamental do tratamento. Algumas estratégias ajudam a preservar o bem-estar do paciente:
- Posicionamento adequado: mantenha o tronco entre 30° e 45° durante e por 30 minutos após a administração da dieta para reduzir o risco de aspiração e desconforto(2).
- Almofadas e acolchoamento: apoios sob a cabeça, costas e membros evitam dor e favorecem o relaxamento, especialmente em longos períodos na mesma posição(3,4).
- Comunicação: explique cada etapa do cuidado, mesmo quando o paciente tem dificuldades para se comunicar. Isso preserva vínculos afetivos e a dignidade(4).
- Higiene e cuidados com a pele: mantenha a pele limpa e seca, sobretudo ao redor da sonda, para prevenir infecções e reforçar o bem-estar.
- Privacidade: sempre que possível, realize os cuidados em um ambiente tranquilo e respeitoso, garantindo intimidade e conforto.
- Higiene oral: restos alimentares na boca podem causar infecções. A higienização deve ser feita pela manhã, à noite e após as refeições, com escova macia e, se necessário, enxaguante bucal(3).
- Alimentação oral (quando possível): mesmo que a nutrição principal seja enteral, oferecer água, gelo, balas ou pequenas porções seguras estimula a salivação, reduz a sensação de fome e melhora o vínculo social e a autoestima(3,4).
Quando procurar ajuda: sinais de alerta que você não deve ignorar
Procure ajuda profissional se houver(2, 5, 6):
- Temperatura acima de 37,8°C
- Náuseas ou vômitos persistentes
- Dor abdominal durante a dieta
- Sangramentos
- Engasgos ou falta de ar
- Vazamento, feridas ou roxidão ao redor da sonda
- Saída de mais de 5 cm da sonda
- Obstrução sem sucesso na desobstrução
- Sonda danificada (rachaduras, furos, perda total ou parcial)
O papel do cuidador: lidando com cansaço e as emoções
Mesmo com o tempo, é normal sentir insegurança, medo, cansaço ou esgotamento. Reconhecer esses sentimentos é parte do cuidado integral.
Autocuidado: estabeleça pausas para descanso, alimentação e hidratação. Cuidadores que respeitam seus próprios limites conseguem manter uma rotina mais equilibrada(4).
Rede de apoio: participar de grupos de cuidadores ajuda a compartilhar experiências, aliviar o isolamento e fortalecer a segurança emocional(4).
Técnicas de relaxamento: respiração profunda e alongamentos simples ajudam a reduzir a ansiedade e favorecem a autorregulação emocional.
Treinamentos: a prática e o conhecimento técnico aumentam a segurança. Participe de treinamentos oferecidos por hospitais ou secretarias de saúde e consulte manuais atualizados. O suporte profissional reduz a sobrecarga(4).
Organizando a rotina de cuidados com a sonda
- Planejamento dos horários: estabeleça um cronograma fixo para administração de fórmula, higienização e hidratação.
- Registro: anote volume infundido, horário e possíveis intercorrências.
- Materiais à mão: prepare em uma bandeja estéril seringas, frascos de água e luvas antes de iniciar o procedimento.
- Revisão periódica: verifique a via de acesso e a integridade da sonda diariamente.
Oferecer uma alimentação por sonda é uma tarefa que vai além da nutrição: envolve cuidado integral, respeito e suporte mútuo.
Quando quem cuida também cuida de si, e quando o paciente se sente respeitado e confortável, a experiência se torna mais humanizada.
Lembre‑se: você não está sozinho nessa jornada – equipe multidisciplinar e redes de apoio estão à disposição para ajudar.
Referências
- Roberge C, Tran M, Massoud C, Poirée B, Duval N, Damecour E, Frout D, Malvy D, Joly F, Lebailly P, Henry-Amar M. Quality of life and home enteral tube feeding: a French prospective study in patients with head and neck or oesophageal cancer. Br J Cancer. 2000 Jan;82(2):263-9. doi: 10.1054/bjoc.1999.0913. PMID: 10646875; PMCID: PMC2363272.
- Nestlé Health Science. Manual de orientação de terapia nutricional enteral. São Paulo: Nestlé Health Science; 2024.
- Hospital Universitário da Universidade Federal do Vale do São Francisco (HU-Univasf). Guia de nutrição enteral: manual prático para profissionais de saúde. 2. ed. Petrolina: EBSERH/HU-Univasf; 2021.
- Serjeant S, Tighe B. A meta-synthesis exploring caregiver experiences of home enteral tube feeding. J Hum Nutr Diet. 2022 Feb;35(1):23-32. doi: 10.1111/jhn.12913. Epub 2021 May 25. PMID: 33934418.
- Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Guia de terapia nutricional enteral domiciliar [Internet]. 2ª ed. São Paulo: HCFMUSP; 2024.
- A.C.Camargo Cancer Center. Nutrição enteral: orientações para pacientes [Internet]. São Paulo: A.C.Camargo Cancer Center; 2020.
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